quarta-feira, 10 de março de 2010

Próxima Sessão Krusmantina - 13/03 (Sáb) às 18h

Sinopse
Baseado no romance homônimo de Clarice Lispector, trata-se do primeiro longa-metragem de Suzana Amaral. Considerado um filme de adaptação acima da média brasileira pela forma criativa com que trabalha o discurso literário e sua transposição para o cinema. Narra a tragédia social do retirante nordestino a partir do percurso de Macabéa, uma imigrante alagoana que abandona o Nordeste para viver na metrópole. Alcançou expressiva repercussão e conquistou alguns dos principais prêmios nos festivais de Brasília e Berlim.


Crítica
Literatura moderna transformada em ótimo filme clássico
Newton Cannito

No enredo, Macabéa é uma imigrante nordestina semi-analfabeta que trabalha como datilógrafa numa pequena firma e vive numa pensão. Ela conhece o também nordestino Olímpico, um operário metalúrgico, e os dois começam a namorar. Mas Glória, uma colega de trabalho de Macabéa, rouba-lhe o namorado, seguindo o conselho de uma cartomante. Macabéa faz uma consulta à mesma cartomante e esta prevê seu encontro com um homem rico, bonito e carinhoso. Macabéa sai feliz, sem saber o que a espera.

A comparação com o livro evidencia as opções estéticas da adaptação de Suzana Amaral. No livro, o narrador se esforça para entrar na mente do outro, do nordestino, e discorrer sobre um melodrama social. O tema social não é algo comum na obra de Clarice e, ao abordá-lo, ela optou pela metalinguagem, em um livro que discute as limitações e também as possibilidades do romance social.

O filme não se utiliza do personagem do narrador. Suzana Amaral partiu de um livro moderno e o transformou num filme de roteiro clássico. E um excelente filme clássico. O que no livro era uma reflexão sobre a possibilidade de contar uma história, no filme se transforma numa história muito bem contada. O livro era um meta melodrama-social e o filme tem a coragem de ser um melodrama social.

Para melhorar a narração dessa história, Suzana Amaral utiliza vários recursos clássicos. O roteiro constrói cenas de apresentação com os personagens em ação e divide alguns personagens do livro em dois, para possibilitar os diálogos típicos do modelo do drama.

Todos os outros recursos da linguagem cinematográfica também estão a serviço de contar bem a história. A direção é concisa e opta por se ocultar para deixar fluir melhor a história. Os atores interpretam seus personagens na dose certa, evitando a exacerbação do melodrama social ou da comédia popular. A performance valeu à Marcélia Cartaxo (Macabéa) um Urso de Prata em Berlim, em 1986. Diálogos do livro de Clarice foram mantidos praticamente na íntegra, em especial os excelentes trechos da relação entre Macabéa e Olímpico, que revelam muito sobre os imigrantes nordestinos. Tudo isso constrói um obra coesa. Tanto que o longa foi fartamente premiado no Festival de Brasília (1985) e Suzana foi escolhida melhor diretora em Havana (1986).

Uma outra comparação interessante é entre o longa-metragem de Suzana Amaral e o primeiro episódio da série "Cena Aberta", também uma adaptação de "A Hora da Estrela", dirigido por Jorge Furtado e disponível em DVD. No seriado, a história do livro é debatida e dramatizada por pessoas reais. Furtado inventou uma maneira de trazer para a adaptação audiovisual o que Clarice Lispector tinha introduzido no romance: uma reflexão sobre as dificuldades de contar uma história.

A comparação entre o livro, o filme de Suzana Amaral e a versão de Jorge Furtado serve como uma reflexão sobre as formas de contar histórias no cinema e na literatura.

Prêmios
Festival de Berlim (1986)
Prêmio da crítica: Suzana Amaral (também indicada ao Urso de Ouro)
Urso de Prata: Marcélia Cartaxo (Melhor atriz)
Festival de Brasília (1985)
Melhor ator: José Dumont
Melhor atriz: Marcélia Cartaxo
Melhor fotografia: Edgar Moura
Melhor diretor: Suzana Amaral
Melhor edição: Idê Lacreta
Melhor filme
Festival de Havana (1986)
Melhor diretor: Suzana Amaral
Trailer

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